terça-feira, 24 de julho de 2012

A tinta branca dos anos...

Nunca pensei na velhice.
Mas a danada chegou...
E seu fantasma me disse
Que o tempo bom acabou.
E o mesmo tempo, sisudo,
Me quis despojar de tudo,
Desmoronando meus planos.
E, pra maior pesadelo,
Jesus pintou meu cabelo
Co'a tinta branca dos anos

O tempo passa veloz,
Deixando tudo em desgraça.
Nós nem pensamos em nós,
Tão veloz o tempo passa.
Eu mesmo, em mim, só pensei
Depois que velho fiquei,
Depois de mil desenganos...
Já não represento nada,
Tendo a cabeça pintada
Co'a tinta branca dos anos.

Tudo na vida se acaba...
A mocidade, também.
A juventude desaba
Quando a caduquice vem.
Sinto que a morte me afronta
E que a consciência conta
O meu tempo entre os humanos.
Vejo meus dias contados
Nos meus cabelos pintados
Co'a tinta branca dos anos.

A tinta que o tempo bota
Sobre a cabeça da gente
É d'uma que não desbota,
Permanece eternamente.
Tem gente que compra tinta,
Mete na cabeça e pinta,
Só pra nos causar enganos...
Mas é besteira do povo:
Depois sai cabelo novo
Co'a tinta branca dos anos.

Tabira(PE), 1970

Nota:
Mote de Sebastião Siqueira, 

domingo, 8 de julho de 2012

Patativa do Assaré - Documentário


Cumade Fulôzinha (Guibson Medeiros)

Na cidade de cabedelo
Existe uma mata fechada
Dizem que é mal assombrada
Se entrar é bom ter zelo
Se  bagunçar não tem apelo
E se ouvir uma risadinha
Corra que vai ser pior
E  o assobio de um cipó
É da cumade fulôzinha

Vive escondida na  mata
Esperando oferenda
Me disseram que era lenda
Mas isso ninguém constata
Quem vai lá não desacata
Que da mata ela é rainha
Vá num dia de domingo
Vê a fumaça do cachimbo
Da cumade fulôzinha

Dizem que tem catatumba
E eu fui pra comprovar
Ouvi um som ecoar
Parecido de zabumba
Um terreiro de macumba
E pena preta de galinha
Uns bonecos de vudu
Em cima de um pé de caju
A cumade fulôzinha

Pode fazer uma visita
Mas é bom não ir sozinho
Vá pelo jardim manguinho
Que essa mata é esquisita
Tem gente que acredita
Que a cumade é bem velhinha
Mas que não sente remoços
Dona da mata dos poços
É a cumade fulôzinha.

Do passado ao presente


Autor: Wilton Silva

Não a certo sem errado
futuro sem precedente
nem passado sem presente
nem forte sem fracassado
nem tudo que é contado
pode ser mesmo verdade
nem velho de pouca idade
nem mentira verdadeira
nem sério sem brincadeira
essa é a realidade


(...)


http://culturanordestina.blogspot.com.br/2011/08/do-passado-ao-presente.html

Além da Primavera

ALÉM DA PRIMAVERA
(Dalinha Catunda)

De flores me vestirei
Seja em qualquer estação.
Não desistirei dos sonhos
Apostei nesta opção
Plantarei sempre alegria
Semear melancolia
Não tenho esta pretensão.
*
A primavera chegou
Sem o sol aparecer,
Mas flores de primavera
Bordaram o amanhecer
Debruçada na janela
Vejo quanto à vida é bela
Sinto seu resplandecer.
*
Amo as flores, amo a vida,
Independente de idade,
O plantio do passado
Colho na maturidade
E em qualquer estação
Bate bem meu coração
Buscando felicidade.

FOLCLORE

O folclore vem do inglês
e sabe o que quer dizer
folk é povo, lore saber
assim é em português
Willian Thoms por sua vês
o criou com muito gosto
morreu num mês de agosto
na data de vinte dois
e hoje já bem depois
seu termo ainda é imposto

O folclore é o popular
Como diz estudiosos
é fatos maravilhosos
são causos a se-contar
independente do lugar
tem a sua qualidade
de manter a identidade
e a raiz de um povo
vindo do velho ao novo
não perguntando a idade

O folclore é a mistura
do passado e de agora
contos, festas de outrora
mudaram a certa altura
mas fica a estrutura
por mais que o mundo mude
com a poio da juventude
o tempo não a corrói
ressurge e se reconstrói
o que é grande virtude

Crendices, superstições
brincadeiras e desejos
lendas contos e festejos
quadrilhas festas, canções
de tantas religiões
procissões, e artesanato
tudo isso é de fato
parte da nossa vivencia
que só quem tem experiência
é um conhecedor nato

Aquelas boas comidas
que só a vovó fazia
as histórias que ouvia
daquelas muito compridas
As brincadeiras, corridas.
o pião, a baladeira
simpatias na fogueira
que quem só viveu adora
nunca que iram embora.
Por mais que o tempo queira

Nosso folclore é herança
é o nosso de verdade
é a continuidade
do que ficou na lembrança
é o que encanta a criança
e faz o velho lembrar
está em todo lugar
das comidas a vestimenta
pois ele se reinventa
esta até em seu lar

Me orgulho das tradições
de tudo que é da gente
e não sou indiferente
para as modificações
mas as novas gerações
que sabem o que é da hora
não vivam só o agora
conheçam nosso passado
antes o que está do seu lado
que aquilo que vem de fora

Antonio Wilton Da Silva

Poesias Wilton Silva - Dia do contra

Dia do contra... 
(ser ao contrario)

No poema de Drummond
sou a pedra do caminho
da roseira encantadora
sou o mais áspero espinho
sou buraco na estrada
sou a curva do caminho

Sou o medo do escuro
sou o frio na espinha
sou o trem desgovernado
que corre fora da linha
sou uma ave de bando
que sempre voa sozinha

Sou estrela que não brilha
sou pássaro que não canta
flor que nunca desabrocha
verdura que não se planta
sou um conselho cruel
do tipo:não adianta

Sou aquele sentimento
que se chama solidão
sou apenas um politico
ou melhor sou um ladrão
não roubo um ou nem outro
mas toda uma nação

Sou o erro de gramática
a triste colocação
a crise do desemprego
a fraude do mensalão
sou um dos erros mais fáceis
de causar uma confusão

Eu sou o que ninguém é
ou que jamais seria
a noite que não termina
a chama que é sempre fria
o sentimento estranho
no final de cada dia...