domingo, 18 de setembro de 2016

O anjo - Onildo Barbosa


Eu sou um corpo invisível
Que percorre o mundo inteiro
Me ver nunca foi possível
Sou honesto e justiceiro
Não sou pobre, nem sou rico,
Aonde chego não fico
Sigo em frente sou veloz
Onde é necessário eu vou
Ninguém nunca me tocou
Nem ouviu a minha voz.

Sou da idade da vida
Sem religião nem seita
Minha ação é percebida
Todo mundo me respeita.
Norte, sul, leste e oeste,
Vou como um raio celeste,
À qualquer parte do mundo
Sem pé sem mãos e sem asas,
Visito milhões de casas,
Em menos de um segundo.

Sou como um forte soldado
Nunca perdi pra ninguém
Destruo qualquer reinado,
Onde chego me dou bem;
Juízes e promotores,
Presidentes, senadores,
Capitães e coronéis,
Por mais valentes que sejam,
Ás vezes nem pestanejam
Findam caindo aos meus pés.

Se você não acredita,
Vou descrever minha história
Matei maria bonita ,
No auge da sua glória
Matei Antonio silvino,
O coronel Zé Rufino,
Zé Ferreira, Lampião,
Depois matei Padim Ciço,
Prá honrar meu compromisso,
Matei o frei Damião.

Matei Beta Mocinha,
Famosa no ceará,
Irmã Dulce, Mãe Menininha,
Tereza de Caucutá,
No nordeste brasileiro,
Matei Jakson do pandeiro,
Lindú, (o rei da canção)
Sem deixar outro na vaga
Matei seu Luiz Gonzaga
O nosso rei do baião.

Fui eu que matei Homero,
Confúcio, Delcalião,
Matei Brama, Buda, Nero,
Aristóteles e Platão.
Matei Gregório de Matos,
João Batista, Pilatos,
Alexandre, Maomé,
Menelau, Pares, Helena,
Lázaro, Marta, Madalena
E a Virgem de Nazaré

Prá mim não tem importância
Se você é um doutor,
Um cientista, astronauta,
Ou um simples lavrador.
Homens como: Balduino,
Do império bizantino,
Calígula, Galba, Crispim,
Ptolomeu, Desidério,
Dário, Pompeu e Tibério,
Todos tiveram seu fim.

Dei o golpe derradeiro
No Balão, rei da turquia,
No papa leão terceiro,
Ricarte de Normandia,
O mundo perdeu: Solon,
Hércules, Agamenon,
A rainha de Sabá,
João martim de Ataíde
Matei Harum-alhachide
Calífa de Bagdá.

Centuriões e tetrarcas
Do Egito e Galileia,
Imperadores, monarcas
Da Arábia e da Judeia
Com o meu instinto justo,
Matei Carsso, Cézar augusto,
Jacó, Dalila, Sansão,
Cleópatra, Justiniano
Arquimedes e Trajano
E o velho rei Salomão.

Matei Mark Weyniclark
General americano
A guerreira Joana Dark
Paulo diácono e urbano
Entrei na idade média,
Li a divina comédia
Que Aliguiery escreveu
Depois que dei minha prova
Seu corpo foi para a cova
E a obra para o museu.

Rommel foi intitulado
A raposa do deserto,
Foi totalmente esmagado
Na hora que cheguei perto.
Matei Hitler, Mussolini,
Depois Wálter Avancine,
Tirou seu nome do mapa
O mundo não tem sossego
Porque na hora que eu chego,
Quem tem vida não escapa.

Eu mato as flores do mato,
Mato bicho mato gente,
Mato papa, presidente
Tudo que tem vida eu mato,
Pode ser; meigo pacato
Provinciano matuto
Mato o manso, mato o bruto
Mato quem rir e quem chora,
O tempo me diz a hora
Eu vou lá e executo.

Entre golpe e imprevisto
Foi pra mim o mais profundo
Quando eu matei Jesus Cristo
Abalei a paz do mundo
Por isso eu vim lhe pedir
Para você dividir
O pão com quem precisar
Quando eu aqui voltar,
Você não será tão forte
Porque meu nome é a morte
Meu compromisso é matar.

sábado, 17 de setembro de 2016

Poeta paraibano Manoel Xudu Sobrinho (1932 – 1985)

O mar se orgulha por ser vigoroso
Forte e gigantesco que nada lhe imita
Se ergue, se abaixa, se move se agita
Parece um dragão feroz e raivoso
É verde, azulado, sereno, espumoso
Se espalha na terra, quer subir pra o ar
Se sacode todo querendo voar
Retumba, ribomba, peneira e balança
Não sangra, não seca, não para e nem cansa
São esses os fenômenos da beira do mar.

O próprio coqueiro se sente orgulhoso
Porque nasce e cresce na beira da praia
No tronco a areia da cor de cambraia
Seu caule enrugado, nervudo e fibroso
Se o vento não sopra é silencioso
Nem sequer a fronde se ver balançar
Porém se o vento com força soprar
A fronde estremece perde toda calma
As folhas se agitam, tremem e batem palma
Pedindo silêncio na beira do mar.

Não há tempestades e nem furacões
Chuvadas de pedras num bosque esquisito
Quedas coriscos ou aerólito
Tiros de granadas de obuses canhões
Juntando os ribombos de muitos trovões
Que tem pipocado na massa do ar
Cascata rugindo serra a desabar
Nuvens mareantes, tremores de terra
Estrondo de bombas, rumores de guerra
Que imite a zoada das águas do mar.

* * *
Sou igualmente a pião
saindo de uma ponteira
que quando bate no chão
chega levanta a poeira
com tanta velocidade
que muda a cor da madeira.

* * *
O homem que bem pensar
Não tira a vida de um grilo
A mata fica calada
O bosque fica intranquilo
A lua fica chorosa
Por não poder mais ouvi-lo.

Sou o mar soltando a rima - Maviael Melo

Sou o mar soltando a rima Em cada onda quebrada Pela flor da jangada Hora em baixo, hora em cima O meu ciclo não termina É corrente quente e fria Conheço a barra do dia E a linha do horizonte Sou básico pra qualquer monte E meu nível é régua guia.

Dama da noite - Chico Pedrosa

Quando o processo mental se espalha na colmeia do juízo,
eu desconheço quem afugente a ideia que está no pensamento.
Eu mesmo só me contento depois que estou saciado,
e assim são todos os seres
que tem haver e deveres com este mundo intrincado.

Eu hoje daria tudo só para ter o direito
de falar ao mundo inteiro o que penso a teu respeito.
Meu desejo é te agarrar com minhas mãos, te apertar até te ver dominada.
Para pagares com castigo o que fizeste comigo durante a noite passada.

A noite, apesar de quente era calma
e eu estava repousando em minha cama quando alguém se aproximava
e esse alguém eras tu, roçaste teu corpo nú em mim,
que estava despido, me cheiraste, me mordeste,
de tal forma me envolveste que estou esmorecido.

Ainda não satisfeita, deixaste nos meus lençóis,
as incontestáveis provas do que houve entre nós,
e sem o mínimo pudor, manchaste meu cobertor com tua sede voraz,
e saístes manhosamente, talvez pra noutro
mostrar do que és capaz.

Planejaste muito bem o modo de me envolver,
cantastes no meu ouvido me fazendo adormecer,
de manhã quando acordei toda a casa vasculhei
na ânsia de te encontrar, mas confesso foi em vão
só os vestígios no chão foi possível constatar.

Hoje a noite em minha cama espero te encontrar,
vamos ter uma conversa, não sei se tu vais gostar.
quero olhar na tua cara, e saber o porque da tara,
que tu tens pra perturbar.
Vou arrochar teu pescoço até tu cantares grosso
ou talvez mais nem cantar.

Todo teu corpo será por minhas mãos comprimido,
só assim receberás o castigo merecido invasora desalmada.
perturbadora, tarada, insaciável, vulgar, magricela sem futuro,
sanguessuga do escuro hoje tu vais me pagar.

Não haverá parte alguma do teu corpo ou região
em que todos os meus dedos a noite não passarão,
só deixarei quando vir o sangue quente a sair
de teu corpo dama imunda, 
só assim me vingarei, de ti pelo que passei...
MURIÇOCA VAGABUNDA.

Saudade - Maviael Melo

Eu admiro a saudade Que fere sem machucar Entrando pela janela Trás a lembrança no ar Deixando na boca o gosto Do cheiro de algum lugar.