terça-feira, 24 de julho de 2012

A tinta branca dos anos...

Nunca pensei na velhice.
Mas a danada chegou...
E seu fantasma me disse
Que o tempo bom acabou.
E o mesmo tempo, sisudo,
Me quis despojar de tudo,
Desmoronando meus planos.
E, pra maior pesadelo,
Jesus pintou meu cabelo
Co'a tinta branca dos anos

O tempo passa veloz,
Deixando tudo em desgraça.
Nós nem pensamos em nós,
Tão veloz o tempo passa.
Eu mesmo, em mim, só pensei
Depois que velho fiquei,
Depois de mil desenganos...
Já não represento nada,
Tendo a cabeça pintada
Co'a tinta branca dos anos.

Tudo na vida se acaba...
A mocidade, também.
A juventude desaba
Quando a caduquice vem.
Sinto que a morte me afronta
E que a consciência conta
O meu tempo entre os humanos.
Vejo meus dias contados
Nos meus cabelos pintados
Co'a tinta branca dos anos.

A tinta que o tempo bota
Sobre a cabeça da gente
É d'uma que não desbota,
Permanece eternamente.
Tem gente que compra tinta,
Mete na cabeça e pinta,
Só pra nos causar enganos...
Mas é besteira do povo:
Depois sai cabelo novo
Co'a tinta branca dos anos.

Tabira(PE), 1970

Nota:
Mote de Sebastião Siqueira, 

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