quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Nordestino, poeta e cantador. - João Paraibano

Já nasci inspirado no ponteio

Dos bordões da viola nordestina

Vendo as serras banhadas de neblina

Com uma lua imprensada pelo meio

Mãe fazendo oração de mão no seio

E uma rede ferindo o armador

Minha boca pagã cheirando a flor

Deslizando no bico do seu peito

Obrigado meu Deus por ter me feito

Nordestino, poeta e cantador.


Me criei com cuscuz e leite quente

Jerimum de fazenda e melancia

Com seis anos de idade eu já sabia

Quantas rimas se usava num repente

Fui nascido nas mãos da assistente

Na ausência dos olhos do doutor

Mamãe nunca fez sexo sem amor

Papai nunca abriu mão do seu direito

Obrigado meu Deus por ter me feito

Nordestino, poeta e cantador.


Fiz farofa de pão de mucunã

Me inspirei com o velhinho do roçado

O sertão é o palco esverdeado

Que eu ensaio as canções do amanhã

Minha artista da seca é acauã

No inverno o carão é meu cantor

Um imbu espremido é meu licor

Um juá eu não dou por um confeito

Obrigado meu deus por ter me feito

Nordestino, poeta e cantador.


Minha vida do campo foi liberto

Merendando café com milho assado

Vendo a lua nas brechas do telhado

E o vento empurrando a porta aberta

Um jumento me dando a hora certa

Já o galo era meu despertador

Meu mingau foi pirão de corredor

Eu cresci forte e gordo desse jeito

Obrigado meu deus por ter me feito

Nordestino, poeta e cantador.

- João Paraibano


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